Inverter o rumo
Andava pelas ruas desertas, escuras e
malcheirosas. Procurava por pensamentos que a levassem para longe. Procurava um
lugar para se encaixar. Queria encaixar suas incertezas, suas lutas em algum
lugar que a aceitasse.
Às vezes pensava que poderia entender
o mundo ou as pessoas que nele habitam. Pensava que poderia mudar o modo como certas coisas acontecem.
Imaginava que um dia tudo seria diferente.
Acreditava que um dia descobriria a raiz de certos absurdos.
Pensava, pensava, pensava, pensava,
pensava... um dia se cansou de todos as suas utopias. Não aguentava mais
conviver com seus pensamentos paralelos a realidade. Então, decidiu aceitar ser
dominada por aquilo que já dominava o mundo todo: o comodismo.
Seguiu com sua vida, começou a
brindar por motivos que antes considerava fúteis. Descobriu que realmente era
mais fácil encarar a realidade por meio da alienação. A vida continuava difícil
como antes, mas agora, não precisava pensar nas... pensar... no que ela pensava
antes mesmo? Nem se lembrava mais. Isso era bom ou ruim?
Em uma noite fria, caminhava lentamente
tentando apreciar a beleza do luar. De repente, sentiu um vazio no
peito. Um vazio que a incomodou. Percebeu, então, que não conseguia apreciar a leveza do luar porque a lua era mais branca para uns do que para outros. Foi nesse momento
que tudo desabou. Foi nesse instante que saiu a procura de algo que desse
sentido a tudo aquilo.
Então, ela caminhou, caminhou,
caminhou... Passou por vários lugares. Até que não aguentou mais. Parou na rua
Fulano de Tal. Reparou que Fulano de Tal nunca tinha passado naquela rua, entretanto merecia seu nome nela. Como se ele fosse mais importante do que todas as pessoas
que ali moraram.
Chorou, chorou, chorou... Seus olhos
embaçados, por causa das lágrimas, não conseguiam mostrar a ela como era de fato
a realidade. Então, ela percebeu que só existia duas saídas. Ela poderia
continuar chorando e se conformar a ficar na rua Fulano de Tal até decidir
voltar para a casa ou poderia enxugar as lágrimas. Recuperar-se e
continuar procurando.
Não valeria a pena conviver para sempre com as mesmas dúvidas, desejava ao menos tentar responde-las. Não sabia se de fato encontraria o que procurava,
mas tinha certeza que não encontraria, se voltasse para casa.
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