Mesmices
Ela estava esperando no ponto como de costume.
Ao entrar no ônibus estava desanimada, pois sabia que seria mais um dia, mais
um pouco dessa rotina desgastante. Talvez fosse melhor nem ter acordado,
pensara. Tudo estava acontecendo conforme a normalidade de todos os dias. Até ela
ver o cobrador mais lindo que já tinha visto até o momento. Na verdade, ele era o cara mais
gato de toda sua vida.
Respirou fundo e agiu naturalmente,
conforme a rotina. Sentou em um banco estratégico, no qual ela conseguia
observar o moço. Passou uma boa parte do trajeto imaginando qual seria a vida
do cobrador, se era solteiro, se gostava das mesmas coisas que ela, se... se...
Oras! Onde estava com a cabeça? Era só falar com ele.
Algo a prendia na cadeira, não encontrava
coragem para levantar. Afinal, o que falaria? “Prazer, meu nome é te achei
muito gato, tem namorada?”. Pelo amor de Deus, ficarei aqui mesmo sentada até
momento da minha descida.
Não conseguia parar de observar o cobrador.
Parecia que tinha sido possuída pela Afrodite como a Helena fora quando viu o Páris,
segundo aquele livro. Não parecia não! A Helena conseguiu se mover em
direção a ele. Não acreditou em seus próprios pensamentos. O que acontecera com
sua mente? Como poderia ficar assim só por causa da beleza de um cara?
Decidiu ir falar com ele. Queria provar
para si mesma que não estava louca ou algo do tipo. Conseguiu levantar,
determinada foi andando como se não existisse mais inércia. Não acreditou
quando viu que ele também levantara, parecia que estava esperando-a.
Quando deu por si, estava chegando perto
dele. Ao abrir a boca para falar o ônibus freou, e ela começou a cair para trás.
No entanto, o cobrador, subitamente a segurara, colocando seus braços envolta
da cintura dela. Porém, ele não ajudou ela a levantar, foi se aproximando mais.
Será que ia beijá-la? Estava acontecendo tudo tão rápido que a única coisa que
ela conseguia pensar era que não o conhecia direito e... já não enxergava mais
nada além de seus doces lábios. Sentia-se pronta para receber o beijo que
salvaria seu dia...
“MOÇA!” – abriu os olhos, estava com a boca
aberta, tinha até babado, dormira sentada no ponto de ônibus. Observou a
velhinha que a acordara. Não podia acreditar que era tudo um sonho. - “É melhor
acordar antes que o ônibus chegue. Às vezes ele costuma passar oito e vinte e
cinco, ao invés de oito e meia”.
Oito e meia? O seu ônibus era o das oito! Olhou
o relógio e teve a certeza: a idosa era lúcida e não estava falando bobagens. Pois
é... começar o dia assim é um ótimo jeito de fugir da rotina.
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